As impressões digitais da água subterrânea
- SACRE

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Atualizado: há 5 dias
Análises químicas feitas pelo SACRE revelam a origem e o destino da água que circula no subsolo
Isabela Batistella

Novas técnicas de rastreamento permitem identificar a origem e o percurso da água. A partir da análise de pequenas variações químicas, é possível compreender onde há infiltração, recarga ou mistura entre águas superficiais e subterrâneas. Um estudo elaborado pelo Projeto SACRE | Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes ajuda a detectar impacto de atividades humanas nas águas subterrâneas, como o vazamento de esgoto e a poluição de rios urbanos. O pesquisador do projeto Vinicius Rogel apresentou o estudo em encontro da Japanese Association of Hydrologic Science.
A análise ocorre em escalas minúsculas. Segundo o pesquisador do SACRE, é possível verificar a origem e o trajeto da água pelos isótopos, que funcionam como uma espécie de assinatura da água. Os isótopos são átomos de um mesmo elemento, mas com pequenas diferenças em sua estrutura: iguais em prótons e divergentes em nêutrons, partes que compõem o núcleo do átomo. A molécula de água, cujos ‘ingredientes’, ou átomos, são o oxigênio e o hidrogênio, pode, portanto, apresentar essas divergências – e são elas que permitem essa identificação.
São os processos naturais que separam esses ‘ingredientes’, criando assinaturas para as moléculas. Cada água do ciclo hidrológico apresenta uma assinatura de isótopos, seja sua origem a chuva, rio ou mar. Ao observar esses processos no aquífero, é possível perceber de onde vem o recurso subterrâneo. Se a assinatura é da chuva, por exemplo, a água se infiltrou pelo solo; se for do rio, significa que está havendo interação entre os dois, e essa informação é essencial para entender quanta água pode ser tirada do rio.
O foco de Rogel é entender como florestas, rios e cidades interferem na água subterrânea. “Os isótopos permitem ver o que está acontecendo dentro do solo, entre a água, a vegetação e o rio”, explica. Suas amostras demonstraram a influência da evapotranspiração nas áreas florestadas, a mistura de fluxos na planície e a recarga intensa nas margens dos rios.
A pesquisa mostrou ainda que o solo arenoso da região de Bauru (SP), laboratório do estudo, facilita a infiltração rápida da água, o que ajuda a entender os processos de recarga e a vulnerabilidade das fontes subterrâneas. Segundo Rogel, esse tipo de abordagem é essencial para compreender como as atividades humanas interferem no ciclo natural. “Ao observar a assinatura química da água, conseguimos identificar a presença de esgoto, de irrigação ou de outros fluxos que alteram o sistema”, diz.
O município depende da água subterrânea do Sistema Aquífero Guarani. As coletas realizadas pelo SACRE, em parceria com o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), permitem comparar diferentes áreas e avaliar o impacto da urbanização sobre a qualidade e a recarga dos aquíferos. Rogel destaca que o conhecimento produzido tem potencial para ajudar a orientar políticas de gestão de água em regiões que enfrentam pressão crescente sobre os recursos subterrâneos.
“Compreender a origem e o destino da água é o primeiro passo para garantir sua proteção”, afirma Rogel. O uso de isótopos tem se consolidado como uma das principais ferramentas para a investigação do ciclo da água em escala global.




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