Diferentes usos e coberturas do solo afetam o balanço hídrico
- SACRE

- 8 de out.
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Pesquisadora do SACRE pesquisa a relação entre vegetação e recarga de aquíferos em áreas tropicais
Isabela Batistella

Pesquisa recente da Universidade de São Paulo (USP) quantificou impactos da perda da floresta sobre o bioma amazônico: o desmatamento causa 74% da redução das chuvas e 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante a seca. “A remoção da cobertura nativa modifica a repartição da água, podendo comprometer tanto o fluxo atmosférico quanto a disponibilidade hídrica nos rios e aquíferos”, aponta Carolina Santos, integrante do Projeto SACRE – Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes, que trabalha em sua tese de doutorado com a evaporação da vegetação e balanço da água.
Santos tem detalhado mecanismos naturais como o papel das raízes profundas na redistribuição da umidade do solo. Segundo ela, as raízes são importantes para sustentar a umidade atmosférica e a precipitação em grandes biomas, como a Amazônia. “O desmatamento na Amazônia interrompe o transporte de umidade pela vegetação e reduz a evapotranspiração, afetando o regime de chuvas regional”, explica. A evapotranspiração é uma importante etapa do ciclo hidrológico, composta pela transpiração das plantas e pela evaporação de água presente no solo.

A pesquisadora faz uma comparação com a bacia do Rio Batalha, no município de Bauru (SP), onde fenômenos semelhantes ocorrem em menor escala. A substituição de florestas por pastagens ou agricultura altera o balanço entre evapotranspiração, escoamento superficial e recarga subterrânea. Os resultados indicam que as florestas nativas, em especial as com raízes profundas e solos estruturados, auxiliam a infiltração e mantêm equilíbrio entre evapotranspiração e recarga. Áreas agrícolas e de pastagem, entretanto, demonstram maior escoamento ou consumo hídrico, além de menor contribuição para o armazenamento subterrâneo.
“Mesmo pequenas reduções de cobertura florestal podem provocar alterações rápidas no balanço hídrico”, afirma Santos. Estudos demonstram que a remoção da vegetação reduz a infiltração, aumenta o escoamento superficial e reduz a contribuição das águas subterrâneas para o curso de água de um rio. E tudo isso ocorre logo nos primeiros anos após o desmatamento. A pesquisadora explica que esses mecanismos estão conectados à perda de raízes profundas e à redução da biomassa que sustenta a evaporação de água e o retorno da umidade à atmosfera.
Segundo Santos, as evidências reforçam a necessidade de conservação da vegetação e restauração de áreas degradadas. Contudo, também é necessário acompanhar o processo com práticas que preservem a qualidade física do solo, essencial para sustentar o ciclo hidrológico – tanto em bacias locais quanto em ecossistemas extensos, como a Amazônia.
O Projeto SACRE faz monitoramento integrado das interações entre rio e aquífero, com análises dos níveis de água em poços de monitoramento. Santos entende que essas pesquisas terão um importante papel para oferecer subsídios para políticas públicas voltadas à proteção da disponibilidade hídrica. Por meio dos dados coletados, será possível mapear zonas de recarga e descarga, estimar variações nas trocas hídricas entre rio e aquífero e avaliar o potencial de adoção de técnicas de recarga gerenciada de aquíferos (MAR).
“Esses resultados poderão embasar estratégias de gestão que conciliem conservação da vegetação, recuperação de áreas estratégicas e manejo integrado de águas superficiais e subterrâneas, que podem contribuir para mitigar os efeitos da degradação florestal”.




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