top of page
Buscar

Riscos dos microplásticos devem ser mais conhecidos

  • Foto do escritor: SACRE
    SACRE
  • 28 de ago.
  • 3 min de leitura

Pesquisadora do SACRE alerta para a necessidade de ampliação de pesquisas e conscientização pública sobre o tema


Isabela Batistella


ree

Os plásticos estão em todos os lugares e facilitam o dia a dia. Sua presença no corpo humano ainda não é totalmente compreendida, mas análises toxicológicas já detectaram microplásticos em diversos órgãos do corpo humano. Segundo a pesquisadora do Projeto SACRE Tayne Machado, as substâncias adentram o corpo pela via digestiva, inalação e contato com a pele. Evidências sugerem que a exposição a esses poluidores pode levar a lesões nos tecidos e disfunções em múltiplos sistemas do corpo.

O SACRE (Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes) é um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que inclui, entre seus objetivos, a criação de estratégias para a remediação de aquíferos urbanos e rurais contaminados por fontes dispersas e múltiplas utilizando soluções baseadas na natureza, engenharia e gestão.

“Os estudos sobre os efeitos dos microplásticos no corpo humano ainda estão no início”, afirma Machado, que ministrou palestra sobre o tema em julho em um evento coorganizado pela Comissão de Proteção e Defesa Animal e do Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Bauru. “Ainda não se sabe ao certo o que podem causar, mas estão geralmente associados a inflamações”, detalha. A pesquisadora cita pesquisas científicas que identificaram que a presença de microplásticos no coração pode aumentar em até quatro vezes a chance de eventos cardiovasculares, como infarto.

Além disso, outros efeitos estão sendo estudados. Uma pesquisa aponta que as disfunções geradas pelos microplásticos nos sistemas do corpo humano podem gerar, por exemplo, indução de estresse oxidativo, caracterizada por um desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes no corpo. Resposta inflamatória, distúrbios metabólicos e a morte celular programada (denominada apoptose) também podem estar associados.

Machado explica que os microplásticos são partículas sintéticas, sólidas e insolúveis. Sua origem pode ser primária, quando já são produzidos intencionalmente pequenos, na dimensão de um a cinco mil micrometros. Exemplos desse tipo são microesferas utilizadas em cosméticos, produtos de limpeza e glitters. Também existem os secundários, originados pela degradação de plásticos maiores, como roupas de poliéster, embalagens e sacolas.

Ainda são poucas as pesquisas que abordam a presença de microplásticos no solo e nas águas subterrâneas. Por isso, o Projeto SACRE passou a estudar a presença desses poluidores nessas matrizes, em especial na área urbana do município de Bauru. O trabalho do projeto engloba a caracterização dos microplásticos, para entender os fatores que influenciam seu transporte ou retenção no solo e nos aquíferos.

Outra preocupação dos pesquisadores é a busca por entender possíveis fontes de contaminação. A principal hipótese do projeto aponta para o vazamento de fossas sépticas das tubulações de esgoto, conforme explica Machado. Na parte superficial, acredita que o principal seja o descarte incorreto de resíduos sólidos e a deposição atmosférica de partículas.

Segundo a pesquisadora, a remediação da contaminação é complexa no modelo de consumo atual, que tanto depende dos plásticos. “Como indivíduo, poderíamos diminuir o consumo, em especial dos plásticos de uso único, descartáveis”, orienta. Apesar disso, a solução continuaria complicada: os plásticos que já estão no meio ambiente continuarão se degradando. Machado argumenta que algumas iniciativas deveriam ser realizadas pelos governos municipais, como o tratamento correto do esgoto, que foi identificado como um importante poluidor. O estímulo da coleta seletiva e do descarte correto para os plásticos é destacado, assim como a conscientização da população sobre a temática.

Algumas iniciativas internacionais são apontadas, como a proibição do uso de plásticos de uso único e a inclusão de filtros em máquinas de lavar para conter os microplásticos. “Ainda assim, é necessário ter cuidado com o descarte adequado desses resíduos que são coletados”, aponta.

As pesquisas alertam para a necessidade de ampliar estudos sobre as consequências dos microplásticos na saúde humana. Esse seria um caminho para facilitar estratégias de prevenção e tratamento contra a poluição, auxiliando a produção de orientações regulatórias sobre avaliação de riscos e estabelecimento de limites de exposição a esses poluidores.

 
 
 

Comentários


Logo-Sigla.png

FAPESP Processos 2020/15434-0 e 2022/00652-7, CNPq 423950/2021-5

bottom of page