Projeto SACRE avança em estudos sobre recarga de aquífero
- SACRE

- 8 de out.
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Técnica permite armazenamento intencional de águas no subsolo, mas estudos no Brasil são limitados
Isabela Batistella

O Brasil é um dos países mais ricos em água doce do planeta, abrigando 12% do total mundial. Apesar disso, enfrenta crises hídricas recorrentes. Pesquisadores do Projeto SACRE – Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes mapearam trinta anos de pesquisa sobre Recarga Gerenciada de Aquíferos (conhecida como ReGA), técnica que consiste em armazenar água superficial no subsolo por meio de sistemas como lagoas de infiltração e poços de injeção. O estudo foi recém-publicado na revista Discover Water e aponta como essa técnica, apesar de centenária, ainda é pouco aplicada e carece de integração em políticas públicas nacionais.
“Não podemos esperar mais 30 anos para aplicar soluções que já conhecemos”, afirma Leonardo Capeleto, um dos pesquisadores do SACRE responsáveis pelo artigo. O trabalho mapeou 30 anos de pesquisas sobre ReGA no Brasil e encontrou 28 artigos publicados até abril de 2023. Muitos casos documentados estão em áreas rurais e de pequena escala. Já regiões urbanas críticas têm poucos registros, como São Paulo, apesar de o Estado concentrar população, consumo e problemas crônicos de abastecimento.
Capeleto direciona a atenção para como as águas brasileiras, apesar de abundantes, não estão distribuídas igualmente por território. Por isso, o pesquisador visualiza a Recarga Gerenciada de Aquíferos como um “banco de águas”. A prática reduz a evaporação, melhora a qualidade da água por filtragem natural e fortalece a resiliência contra secas. Nesse sentido, tem potencial para auxiliar regiões como o Cerrado, no Estado de São Paulo, região com chuvas e secas intensas em diferentes períodos. “A ReGA poderia atuar ao guardar o excesso de águas no período chuvoso para utilização durante a seca”, exemplifica.
Um dos desafios para a aplicação da técnica em grande escala é a ausência de estratégia nacional e integração com políticas públicas. “Apesar disso, não podemos usar a falta de uma legislação específica como desculpa para não avançar no uso dessas técnicas ou pelo receio de mudanças. O clima está mudando e precisamos nos adaptar”, argumenta.
O Projeto SACRE tem a cidade de Bauru (SP) como laboratório urbano e aplica pesquisa científica no desenvolvimento de políticas públicas e soluções aplicáveis. Entre as iniciativas do projeto, estão a instalação de poços de monitoramento, testes de injeção e estudos para adaptar a ReGA a contextos urbanos. O pesquisador indica que São Paulo ainda está no começo dos estudos sobre a técnica. “O SACRE vem para correr atrás desse atraso e criar exemplos para o país”, destaca.




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